os meninos de Itacaré

Ivan, Tal, Cleandro. Cresceram numa cidade abençoada, Itacaré. Fica no sul da Bahia, próximo a Ilhéus. Vivia do cultivo e colheita de cacau. Mas a queda de produção no passado fez a população local procurar outras atividades. E o turismo caiu como uma luva. Estamos falando nos anos 90.

A natureza em Itacaré é exuberante. Itacarense que se preze sabe surfar, fazer capoeira e dançar forró. É uma cidade prazerosa, do começo ao fim. Ivan, Tal e Cleandro também sabem. Do dia para a noite, os três, como todos os meninos de Itacaré, passaram a conhecer pessoas diferentes, do mundo todo. Todas as semanas entram e saem excursões, ou chegam turistas, dos mais variados pontos do mundo: Irlanda, Suécia, Noruega, França... Antes eram só eles e as meninas de Itacaré.

Os meninos de Itacaré são doces, amorosos. Não gostam de ver ninguém perdido. Param o que estão fazendo para ajudar um turista. E o fazem espontaneamente. Já o faziam antes do turismo, por terem alma pura. Talvez efeito da capoeira. A cidade é forte. Os meninos de Itacaré idem. Todos adoram exibir o corpo sarado - não de academia, mas de capoeira, praticada diariamente na praia. Talvez também efeito do contato ao vivo e a cores com a natureza selvagem. Eles driblam qualquer trilha e qualquer dificuldade.

São felizes, são dignos. Gostam das coisas certas, corretas. E adoram divulgar a ciência do amor e da alegria - claro, para benefício próprio. Mas quem não faria o mesmo se do dia para a noite, no auge da adolescência, começassem a ver milhares de mulheres do mundo todo chegando ao seu pedaço?

Os meninos de Itacaré são privilegiados. Ganham ofertas para morar no mundo todo. Mas não se deslocam de lá... ao contrário, toureiam os centenas de turistas do mundo todo que largaram seus respectivos países para se instalar por lá.

Ai de quem foi só pelo dinheiro. Os meninos de Itacaré desprezam esse grupo. Muitos não aguentam esse isolamento dos locais, e vão embora.

Os meninos de Itacaré vivem hoje do que eles mais gostam de fazer. Dão aulas de surfe para os turistas, alugam suas casas para turistas, vão apresentar os melhores pedaços de Itacaré para os visitantes.

Preocupa a privatização da natureza que os grandes grupos de turismo mundial andam promovendo em Itacaré. Isso os meninos de Itacaré ainda não compreendem bem os efeitos futuros. Embora saibam que cidades vizinhas perderam reinados por conta da exploração desenfreada - a CVC acabou com Porto Seguro em vinte anos de pacotes baratos - de R$ 300 - para passar uma semana em Porto. O recurso enriqueceu a empresa, mas empobreceu para sempre Porto. E matou sua cultura.

Trancoso, Espelho, por exemplo, não chegaram a tanto, mas tornaram-se cidades caras, para a elite brasileira e mundial.

Que Deus abençoe - ainda mais - os meninos de Itacaré.