quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rio 4000 mm, cidade da chuva e do caos

Evento às 8h30 da matina, Museu Nacional, aquela cara de sono de quem há tempos não está mais acostumado a acordar antes das 9h. Mas lá vamos nós...

Chove pra cacete no Rio de Janeiro. Chuva grossa, sem parar a madrugada inteira, e como eu não queria levar guarda chuva com tamanho de guarda sol para um evento, desce comigo a intrépida Marilene (que eu saberia intrépida dali a pouco), com sua sombrinha combalida pelo tempo e o vento.

Nunca peguei táxi em NY. E nunca vi essa cena no Rio de Janeiro. Mas ali estava uma verdadeira cena nova iorquina: um monte de pessoas na calçada, separadas de maneira esparsa, mas nunca mais do que a 50 metros umas das outras. Na frente dos hotéis, amontoados de gente. Todos com o mesmo objetivo: pegar um mísero táxi. E todos os táxis haviam sumido.

No começo, achei que fosse alguma epidemia que tivesse atacado os pobres choferes de praça, algo relacionado ao estresse do trânsito ou ao jogo do Fluminense do dia anterior, ou então uma greve por melhores condições de trabalho, a meu ver uma greve inédita, possibilidades reforçadas pelo fato de os poucos táxis na rua estarem estacionados, com as portas fechadas e nenhum taxista à vista. A explicação, no entanto, era outra: em dia de chuva e caos no Rio de Janeiro - e hoje foi um dia de chuva e caos por aqui - boa parte dos taxistas simplesmente prefere não trabalhar!

Chocado com tamanha falta de civilidade e senso de dever público, não me restou outra alternativa senão disputar os poucos táxis disponíveis. Na verdade não eu, mas Marilene, a intrépida, que, sombrinha em punho, quase se jogava na frente dos automóveis amarelos para conseguir uma corrida. Me senti ali até um pouco constrangido: eu ali, de terno e gravata, com um puta guarda chuvão, meio imóvel e seco, e Marilene, com roupa para a faxina do dia, se esgoelando e se molhando toda para conseguir um maldito táxi para mim.

Caminhamos durante toda a Gustavo Sampaio, sem sucesso. Fomos andando até uma avenida a uns 500 metros de casa e ali passavam alguns taxis. O problema: eu e mais quatro pessoas no mesmo pedaço de calçada disputando os carros. No entanto, nenhum deles, os taxis, estava sem passageiro. Quando um finalmente parou, nova cena de NY: uma mulher pula na minha frente e entra no carro.

Não me aguento: "Olhe, minha senhora, me desculpe mas eu estava aqui antes de você, que falta de educação hein?!". Para meu espanto, ela reage de maneira simpática: "Sinto muito, não tinha percebido, etc, etc, por favor pode entrar no carro e ir". Me sinto agora beeeem constrangido: era uma senhora, já na casa de seus 50 anos, e eu nem precisava ter falado daquele jeito. Muito menos Marilene tê-la encarado daquela maneira tão agressiva, quase pulando no pescoço da coitada. Recuei: "Me desculpe, pode ir a senhora", falei, já pensando em desistir do evento, da chuva e do Rio de Janeiro. Ficamos nesse vai e volta quase 1 minuto, só quando o carro ameaçou ir embora é que acabei entrando e fui para o museu, com a consciência pesada.

Entrando no carro, o motorista me pergunta: para onde o sr vai? Respondo e ele me diz para entrar, aliviado. "É que estou indo para casa, no Flamengo, e ali fica pertinho. Se fosse para longe eu não ia não, com um tempo desses é melhor ficar em casa", explicou-me simpático o motorista, sem ter a menor idéia do risco que estava correndo.

Nenhum comentário: